terça-feira, 7 de dezembro de 2010
mesmo não sendo inteiro, ele ainda se mantém claro
Não podendo existir nada disso
O que nos resta?
Resta o que nos fazemos
Mas o que fazemos, as vezes fazemos por tal
Faça o queres já dizia o poeta
Faça o que tentas, já esse
Fazendo o procurado
Fazendo os desabrigados
Os desabrigados dos sonhos
Fazendo da noite sua casa
A noite é sua casa
Ela é tua alvorada
Aquela fonte modificada
Sua fonte de inspiração
Salvemo-nos da grande desgraça
Salvemo-nos no amor
Algo que floresce cada dia mais
Algo que floresce e de repente se vai
Não sei o que dizer
Mas quem vai saber o que pensei?
Agora sou um soldado que pede
Que pede algo em troca
Eu não queria lutar pelo desnecessário
Só queria algo que valesse a pena
Algo que me valesse
Algo que me acobertasse
Sei que foi assim
Meio distraído, foi como recebi
E nada fiz pra isso
Apenas soube que nada precisava provar
E sempre sabendo que não precisava
Não preciso saber de nada
As vezes ninguém vê
E todos sabem que é lindo
Se entregar demais
Entregar e empregar
Só lembrando como era
Só vivendo
Assim se pode fazer
Viver o entregar
E empregar o viver
Lembra daquele beija-flor que tava sempre aqui na porta?
E que há tempos não aparecia mais?
Ele voava sumido por aí
Falaram que tava em outras flores
Mas hoje eu vi
Ele voltou
Tava aqui, planando pra frente e pra trás
Saciando-se na água doce
Voltou a voar com tuas asas
Que não param
Voando mesmo, feliz
Voltou a voar plenamente
Beija-flor bonito, amor
E lembrei-me de ti
Quando me dizia do futuro
Falava bonita
Mas agora tu já voaste
E eu parei aqui e vi
O voo do beija-flor
E vi que voava também
Voava além de quebra-mar
Mas não me perdia
Novo
Novo coração
Voando
Não perdido
Compromisso
Era isso, amor
Era isso
Que bom
Tu tens a virtude
Mostraste-me
E agora avoa
Amor, voa!
Voa que eu voo também
E voamos, sempre!
Sempre voando
Vai voando
Planando
Que o beija-flor
Continua a beber da doce água
Peguei o amor e juntei com a solidão
Daí o amor não gostou
Disse que com a solidão não ficava
Mas aí a solidão jogou aquele charme bucólico
Pegou o amor de jeito
Mas que bonito!
Então nasceu o belo amor solitário
Na maternidade doeu o coração
O filho perdido, sem irmão
O cheiro do cigarro
Me lembra o desespero paterno
Era um lindo garoto
Que naquele berço ficou
E de lá ninquém mais viu
Foi-se embora
Lágrimas de uma senhora
Me fizeram chorar
Eu muito novo, fui embora
Só ví o sol raiar melancólico
Uma cara pálida
O sorriso sólido
Que me passava segurança
Aquela criança
Agora descansava
E agora sempre se alegrava
Perdi meu isqueiro
Agora não acendo o cigarro
Mas disso não preciso mais
Já tenho teu afágo
Menina bonita dos olhos fartos
Seios à mostra
Me geme ao ouvido
Faz ruídos
Que é pra chamar atenção
Chame-me pra cama
Que eu vou, cheio de paixão
Por debaixo das cobertas há um mundo a ser descoberto
Rasgam-se as colchas, façamos um país de suor
Marca-me o corpo, rasga-me a carne
Esquento teu corpo junto ao meu
Faço dele meu, por um instante apenas um
Suspira-me a dor do prazer
Junte comigo na dança do prazer
Vamos até o amanhecer
E vamos juntos onde quisermos
Pois ninguém pode nos alcançar
Não onde ninguém sabe como chegar
Então venha comigo
Mergulhe nesses lençóis
E vamos ao embarque
Da nave que parte
E não tem direção e nem chegada
Apenas uma grande e suntuosa viagem
Sem tempo nem direção
Vamos nos sentir
Até apenas sentir o som do coração
Praia, samba, carnaval e futebol!
Exalta, exalta!
Mas se tudo fosse verdade
O ano inteiro dava sol
A noite é fria, é escura
A noite arrepia e faz envolvente
A noite é silenciosa, mas não quieta
A noite é frígida e faz gemidos
Ah! Gemidos! Faz gemidos que acolhem
Acolhe e te faz sentir criança
Fecha os olhos e lembra
Te consome como a um vaga-lume
Que ilumina e apaga, só pra não faltar a luz
Quando a lua transforma e te faz dançar
A dança da noite com seus calafrios
Com suas flores densas e pensamentos arredios
A noite olha e te encara, coloca no muro
No escuro do muro, no alto do claro
Te pega sem avisar e leva à escuridão
Ah! Os gemidos da noite!
Te colocam no ar e sem ar a respirar
Te envolve na dança que nem criança
Que passa a chorar mas depois atenta
E volta a dançar, que nem a noite
Envolvente madrugada dos poucos
São muito os loucos que se atrevem a dançar
E dançam feito criança, escutam gemidos
Parecem aflitos, correndo perigo, mas voltam a dançar
Escrever é uma arte?
Se faço poesia, faço arte
Mas se escrevo, faço poesia?
Escrevo para poucos, escrevo para muitos
Se escrevo pouco, escrevo para menos?
Se escrevo textos e paradoxos
Posso eu inventar arte?
Se penso logo existo
E se escrevo logo penso?
E se o pensar me confunde
Então escrevo pra me clarear
Clareio-me tanto que escrevo poesia
E até faço arte
Passo então a ser artista
Mesmo sendo pouco
Torno-me arte
Se faço arte logo faço parte
Parte de tudo um todo
Parte de algo, porém
Algo que agora não sei
Mas ao menos sei
Sei que escrevo e faço parte
Sei que faço arte
Sei que faço o que faço
E escrevo minha arte
Então escrevo minha vida
Fazendo a escrita clara
Tão clara que tão bela
Transpondo o pensamento, livrando cada tormento
Mas se existo logo penso
Penso que existo logo
E logo escrevo o tormento
E clareio-me a arte na vida
Escrevo, escrevo, escrevo
-O total silêncio pode ser revelador ou desesperador, concorda com isso?
A sala permaneceu quieta, com um silêncio quase absoluto, cortado por um pequeno ventilador no canto do cômodo que ao ventilar o quarto fazia um barulho forte.
Uma pessoa levanta vagarosamente, caminha por toda a sala e o desliga. Dá um suspiro e retorna ao seu lugar de antes.
-O total silêncio pode ser revelador ou desesperador, concorda com isso?
-E porque pergunta isso?
...Silêncio...
-Por que perguntas isso!?
O silêncio permanece.
-Entendi quer que eu fique aqui perguntando, até eu me desesperar e você confirmar a tua resposta né? Mas tudo bem, eu não vou me submeter a isso.
Após algum tempo a sala permanecia com um silêncio ensurdecedor. Alguém puxa um cigarro do bolso, pega a caixa de fósforos e com cuidado para não quebrar o palito, acende o cigarro. Joga a fumaça ao ar, apreciando cada tragada no cigarro, aproveitando o caminho que a fumaça faz até chegar aos pulmões e ao sair pela tua boca e se espalhar ao ar.
20 minutos depois, uma voz rouca e grossa, parecendo com o de uma pessoa de idade, quebra o silêncio da sala:
- A partir de agora não mais falarei, ficarei mudo por opção, deixarei surdos os que vierem me falar e não proclamarei uma só palavra. Sendo assim deixar-me-ei fazer do silêncio minha revelação e deixando desespero com meu verdadeiro eu. É assim que farei, assim serei e nada me impedirá, agora começo a viver.
A porta foi aberta, algo de lá saiu, apagou a luz e saiu. Deixou pra trás tudo e nada, deixou pra trás o que quis e levou consigo o silêncio que o necessitava.